Paralisia Facial e os Olhos: O Que Você Precisa Saber ?
- Dr. Guilherme Cunha

- há 16 horas
- 6 min de leitura
Acordar pela manhã e perceber que metade do rosto não se move normalmente é uma experiência assustadora. Quando isso acontece, uma das preocupações mais imediatas deveria ser com os seus olhos. A paralisia facial não afeta apenas a aparência ou a capacidade de sorrir – ela pode colocar sua visão em risco sério se não for tratada adequadamente.
Como neurologista especializado em neuroftalmologia, atendo regularmente pacientes com paralisia facial que desenvolveram complicações oculares graves por não terem recebido orientação adequada nos primeiros dias da doença.
Este artigo foi escrito para que você entenda por que seus olhos precisam de atenção imediata e como protegê-los.
Por Que a Paralisia Facial Afeta os Olhos?
O nervo facial (sétimo nervo craniano) é responsável por controlar os músculos da expressão facial, incluindo aqueles ao redor dos olhos. Quando este nervo para de funcionar adequadamente, você perde a capacidade de:
Fechar completamente a pálpebra do lado afetado
Piscar de forma eficiente para lubrificar o olho
Produzir lágrimas adequadamente em alguns casos
O resultado é um olho que fica parcial ou totalmente exposto, vulnerável ao ressecamento, infecções e lesões graves da córnea – a camada transparente que protege a parte frontal do olho.
O Sinal Mais Importante: Você Consegue Fechar o Olho Completamente?
Faça este teste simples agora: tente fechar o olho do lado afetado suavemente. Peça para alguém observar ou tire uma foto. Se você consegue ver uma fresta (esclera) ou a parte colorida do olho (íris) ainda visível, seu olho está em risco.
Este sinal, chamado de lagoftalmo, significa que sua córnea está exposta ao ar continuamente. Durante o sono, a situação piora ainda mais, pois perdemos a consciência e o olho permanece aberto por horas seguidas.
Os Riscos Reais Para Seus Olhos
A exposição contínua da córnea pode levar a complicações progressivas:
Nos Primeiros Dias
Sensação de corpo estranho ou areia no olho
Vermelhidão e irritação persistente
Lacrimejamento excessivo (paradoxalmente, o olho tenta compensar o ressecamento)
Visão embaçada intermitente
Se Não Tratado (1-2 Semanas)
Úlcera de córnea (ferida aberta na superfície do olho)
Infecções oculares secundárias
Cicatrizes na córnea que podem ser permanentes
Dor ocular intensa
Complicações Graves (Semanas a Meses)
Opacificação da córnea com perda visual irreversível
Perfuração corneana em casos extremos
Necessidade de transplante de córnea
A boa notícia: a grande maioria dessas complicações pode ser evitada com cuidados adequados iniciados precocemente.
Paralisia de Bell: A Causa Mais Comum
A paralisia facial periférica idiopática, conhecida como Paralisia de Bell, representa cerca de 60-75% dos casos de paralisia facial aguda. Ela ocorre quando o nervo facial sofre uma inflamação, geralmente relacionada à reativação de vírus (como o herpes simples) ou processos inflamatórios.
Características Típicas da Paralisia de Bell:
Início súbito, geralmente ao acordar ou em poucas horas
Fraqueza ou paralisia completa de um lado do rosto
Dificuldade para fechar o olho, sorrir ou franzir a testa
Pode ter dor atrás da orelha antes ou durante o início
Alteração no paladar em alguns casos
Sensação de que os sons estão muito altos (hiperacusia)
A maioria dos pacientes com Paralisia de Bell (70-80%) recupera-se completamente ou quase completamente em 3 a 6 meses, especialmente quando tratada precocemente com corticosteroides.
Outras Causas Que Não Podem Ser Ignoradas
Embora a Paralisia de Bell seja a mais comum, existem causas que exigem investigação e tratamento urgente:
Causas Neurológicas Graves
AVC (Acidente Vascular Cerebral): quando o AVC afeta o tronco cerebral, pode causar paralisia facial associada a outros sintomas neurológicos como tontura, dificuldade para engolir, fraqueza em braços ou pernas
Tumores cerebrais: especialmente aqueles que crescem próximos ao nervo facial ou no ângulo ponto-cerebelar
Esclerose múltipla: pode causar paralisia facial como manifestação inicial
Infecções
Herpes zóster ótico (Síndrome de Ramsay Hunt): paralisia facial com vesículas (bolhas) dolorosas no ouvido ou boca
Doença de Lyme: transmitida por carrapatos, comum em certas regiões
Otite média ou mastoidite: infecções do ouvido que podem comprometer o nervo facial
Trauma
Fraturas do osso temporal (base do crânio)
Lesões cirúrgicas durante procedimentos na região
Como Diferenciar: Paralisia Facial Periférica vs Central
Existe uma diferença fundamental que todo paciente deve conhecer:
Paralisia Facial PERIFÉRICA (como a Paralisia de Bell)
Todo o lado do rosto é afetado, incluindo a testa
Você não consegue franzir a testa do lado afetado
Você não consegue fechar o olho completamente
Você não consegue enrugar a testa ao erguer as sobrancelhas
O risco ocular é ALTO porque o olho não fecha
Paralisia Facial CENTRAL (geralmente AVC)
Apenas a parte inferior do rosto é afetada
Você CONSEGUE franzir a testa normalmente
Você CONSEGUE fechar o olho completamente
Você CONSEGUE enrugar a testa ao erguer as sobrancelhas
O risco ocular é mínimo porque o olho fecha normalmente

Sintomas que indicam causa central (AVC) e exigem emergência:
Fraqueza ou formigamento em braço ou perna do mesmo lado
Dificuldade para falar ou compreender
Perda de equilíbrio ou tontura intensa
Visão dupla ou perda de visão
Dor de cabeça súbita e intensa
Alteração do nível de consciência
Sinais de Alerta – Procure Atendimento Oftalmológico Urgente
Procure um oftalmologista ou serviço de emergência imediatamente se apresentar:
Dor ocular intensa que não melhora
Piora súbita da visão
Olho muito vermelho que não melhora com lubrificação
Secreção purulenta (amarelada ou esverdeada)
Sensação de que há algo arranhando o olho constantemente
Sensibilidade extrema à luz (fotofobia)
Qualquer mancha esbranquiçada na parte colorida do olho
Esses sintomas podem indicar úlcera de córnea ou infecção, que necessitam tratamento especializado urgente.
Tratamento Médico da Paralisia Facial
O tratamento da paralisia facial em si depende da causa identificada, mas algumas medidas são geralmente indicadas:
Tratamento Medicamentoso
Corticosteroides Para a Paralisia de Bell, o tratamento com prednisona ou prednisolona nas primeiras 72 horas aumenta significativamente as chances de recuperação completa. O corticoide reduz a inflamação do nervo facial.
Proteção Ocular Medicamentosa
Colírios lubrificantes de uso frequente
Pomadas oftalmológicas para a noite
Em alguns casos, antibióticos tópicos profiláticos
Fisioterapia Facial
Após a fase aguda, exercícios de fisioterapia facial podem ser iniciados para:
Estimular a recuperação do nervo
Prevenir contraturas musculares
Melhorar a simetria facial
Prevenir sincinesias (movimentos involuntários associados)
O Prognóstico: O Que Esperar?
O prognóstico depende da causa e da gravidade da paralisia:
Paralisia de Bell
Leve a moderada: 85-90% recuperam completamente em 3-6 meses
Grave (paralisia completa): 60-70% recuperam completamente
Fatores de bom prognóstico: início do tratamento precoce, presença de algum movimento facial preservado, ausência de diabetes
A Importância da Avaliação Especializada
Avaliação Neurológica Completa
Identificação precisa da causa da paralisia facial
Exclusão de causas graves que necessitam tratamento específico
Graduação da severidade da paralisia
Avaliação de outros nervos cranianos
Avaliação Oftalmológica Integrada
Exame detalhado da superfície ocular (córnea, conjuntiva)
Avaliação da função lacrimal
Medida da produção de lágrimas
Teste da sensibilidade corneana
Documentação fotográfica para acompanhamento
Plano Terapêutico Individualizado
Prescrição do tratamento medicamentoso adequado
Orientações específicas de proteção ocular baseadas no grau de exposição
Definição da necessidade de procedimentos complementares
Seguimento programado para ajustes terapêuticos
Mitos e Verdades Sobre Paralisia Facial
MITO: "Paralisia facial sempre melhora sozinha, não precisa tratamento"
VERDADE: O tratamento precoce com corticosteroides aumenta significativamente as chances de recuperação completa. Sem tratamento, o risco de sequelas permanentes é maior.
MITO: "Se não melhorar em um mês, não vai mais melhorar"
VERDADE: A recuperação pode continuar por até 12 meses, embora a maior parte ocorra nos primeiros 3-6 meses.
MITO: "Colocar compressa quente ou fria faz diferença"
VERDADE: Não há evidência científica de benefício. O importante é o tratamento medicamentoso e a proteção ocular.
MITO: "Os olhos não precisam de cuidados especiais se não estiverem doendo" VERDADE: O dano corneano pode progredir silenciosamente. A proteção deve começar imediatamente, mesmo sem sintomas.
Quando Você Deve Me Procurar?
Agende uma consulta especializada se você:
Desenvolveu paralisia facial recentemente (mesmo que já tenha iniciado tratamento)
Tem paralisia facial e não recebeu orientações específicas sobre proteção ocular
Está com paralisia facial há semanas ou meses sem melhora adequada
Apresenta sintomas oculares junto com a paralisia (vermelhidão, dor, visão embaçada)
Foi diagnosticado com Paralisia de Bell mas tem sintomas atípicos
Tem recorrência de paralisia facial
Apresenta paralisia facial bilateral (dos dois lados)
Tem outros sintomas neurológicos associados
Agende Sua Consulta
Avaliação integrada neurológica e oftalmológica
Diagnóstico preciso da causa da sua paralisia facial
Tratamento baseado nas mais recentes evidências científicas
Proteção efetiva dos seus olhos
Acompanhamento até a recuperação completa
Entre em contato e agende sua consulta através do site neuroftalmologia.online
Sua visão é preciosa. Vamos protegê-la juntos.
Dr. Guilherme da Cunha Messias dos Santos
CRMMG 44778 | RQE 41335
Neurologista e Neuroftalmologista
Mestre em Fisiologia e Biofísica pela UFMG
Preceptor de Neuroftalmologia da Santa Casa de Misericórdia de BH
Referências: Este artigo foi elaborado com base em literatura médica atualizada e diretrizes internacionais para o manejo da paralisia facial periférica, incluindo as recomendações da American Academy of Neurology e American Academy of Ophthalmology.
Este conteúdo tem caráter educativo e não substitui a consulta médica. Cada caso deve ser avaliado individualmente por um profissional qualificado.



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